Oferecemos
bênçãos apostólicas, orações
benevolentes, e saudações no Senhor aos nossos irmãos,
Sua Beatitude Mar Basílio Thomas I, Católico da Índia,
suas eminências os metropolitas, bispos, aos nossos filhos espirituais
os veneráveis sacerdotes, os devotos monges, às freiras
e diáconos e a todo o nosso abençoado povo siríaco-ortodoxo.
Que a Divina Providência os envolva através das orações
da Virgem Maria, Mãe de Deus e São Pedro o chefe dos apóstolos
e de todos os mártires e santos, amém.
Meus amados:
Oramos para que estejais todos bem e pedimos a Deus para preservar-vos
com boa saúde e espírito.
Por ocasião do milésimo trecentésimo aniversário
da assunção de São Jacó de Edessa para a morada
celeste estamos felizes em declarar este ano de 2008 o ano de São
Jacó de Edessa na nossa Igreja Siríaca Ortodoxa Universal;
e, por ocasião deste nosso édito ponderamos os acontecimentos
vividos por este grande santo resumindo aqui sua gloriosa biografia.
São Jacó (ou Tiago na pronuncia latina) nasceu na vila de
Aindaba na província de Antioquia no ano 633 da era cristã.
Estudou no Monastério de Keneshrin (Ninho das Águias) que
fora fundado por São João de Aftonia (+536AD) às
margens do Rio Eufrates na cidade de Jarablos em 530AD; um centro educacional
que os nosso mestres e estudiosos siríacos conservaram até
o século XIII..
São Jacó tomou o hábito de monge e estudou a língua
e a literatura grega bem como filosofia e teologia sob orientação
do grande filósofo São Severas de Sabbug.
Seguiu depois para Alexandria para continuar seus estudos de lingüística
e filosofia retornando à Síria e optando pela vida asceta
em Edessa quando foi ordenado sacerdote.
No ano de 684 foi ordenado bispo de Edessa por seu amigo o Patriarca de
Antioquia Mar Atanásio II de Balad (684 - 687), permanecendo em
Edessa por quatro anos.
Por seu zelo fervoroso em manter as regras diárias da Igreja e
seu desejo de trazer à disciplina os mosteiros arquidiocesanos,
sofreu resistência de alguns monges e clérigos e então
viu-se obrigado a removê-los de seus cargos.
Sabe-se que ele juntou alguns livros das regras e ordens da Igreja na
soleira do mosteiro onde o Patriarca Juliano e alguns bispos eram lenientes
na implementação das regras religiosas. Queimou os livros
bradando: "estou queimando as leis que vocês pisoteais com
vossos pés e que não aplicais e que, portanto tornaram-se
inúteis para vocês". Assim renunciou ao episcopado para
recolher-se no mosteiro de São Jacó em Kashoom próximo
da cidade de Samosata. Mais tarde foi viver no mosteiro de Ousebuna nos
subúrbios de Antioquia onde permaneceu por onze anos ensinando
seus monges a língua grega. Em seguida foi para o Mosteiro de Tal
Ada no noroeste da cidade de Alepo onde permaneceu por nove anos durante
os quais o bispo de Hadiab, o predecessor de São Jacó na
cátedra de Edessa faleceu. O povo de Edessa então pediu
para que retornasse à sua arquidiocese e ele concordou. Depois
de quatro meses da sua posse, seguiu para o mosteiro de Tal Ada para coletar
seus livros, mas veio a falecer a 5 de junho de 708 sendo lá enterrado.
Em verdade São Jacó de Edessa era um teólogo, historiador
e tradutor do Siríaco ou Aramaico e grego. Explicou a Bíblia
Sagrada e era conhecido como analista dos vários livros. Deixou
uma obra de mais de trinta livros de sua autoria ou tradução,
tendo editado e revisto vários assuntos da Bíblia Sagrada
nos quais explicava verso a verso a jurisprudência eclesiástica,
historia, filosofia, doutrina religiosa, ritos da igreja, etc...
Era conhecido pelo povo siríaco como o primeiro a instituir uma
gramática lingüística. Tinha um estilo moderno de tradução,
pois enquanto seus predecessores traduziam ipsis literis, ele traduzia
de acordo com o significado do texto.
Enquanto celebramos o milésimo centésimo ano da sua partida
para a mansão celeste, lembramos o que São Paulo ordenou-nos
dizendo: lembrai-vos dos vossos prelados que vos falaram a palavra de
Deus cuja fé haveis de imitar, considerando qual haja sido o fim
da sua conduta. (Hebreus 3:7), nós portanto, ordenamos a todas
as nossas arquidioceses siríacas em todo o mundo a celebrar esta
ocasião feliz acompanhada da Santa Quaresma com orações,
trabalhos caritativos e a incluir a biografia deste grande santo nas homilias
a fim de manter a doutrina da Igreja Ortodoxa e as ordens apostólicas
bem como as regras dos sínodos ecumênicos nos moldes em que
São Jacó ensinou o clero e o povo. Estas regras e leis foram
estatuídas de modo a construir as almas e para que também
se voltem a Deus em verdadeiro arrependimento e corações
sinceros.
Que o Senhor Deus faça esta ocasião feliz e uma fonte de
graça e bênçãos a todos, meus amados, através
da intercessão da Virgem Maria, a Mãe de Deus e o ilustríssimo
Santo Jacó de Edessa com os demais Santos e Mártires.
Por ocasião da Santa Quaresma, pedimos ao Senhor que aceite vosso
jejum, orações e obras caritativas e vos torne dignos de
celebrar Sua vitoriosa ressurreição com alegria, felicidade
e saúde. Feliz Páscoa!
e: pai nosso que estas no céu....
Editado em nossa sede patriarcal em Damasco - Síria, no dia oito
de fevereiro no ano dois mil e oito do Nosso Senhor, o vigésimo
oitavo ano do nosso patriarcado.
Para melhor compreensão da vida deste santo segue abaixo uma imagem
da cidade de Edessa atualmente na Turquia e algumas notas complementares
sobre o estudo da obra de Jacó de Edessa.
A orientalista
Alyson G. Salvesen, do Instituto de Estudos Orientais da Universidade
de Oxford em seu estudo conclui que talvez Jacó de Edessa pensou
num tipo de texto bíblico que criou poderia atrair os que não
apreciavam o estilo siríaco da "syrohexapla" e a forma
como ignoravam completamente a "peshita". Pode ser também
que a versão de Jacó de Edessa permitiu aos seus leitores
entender a "exegesis" grega sem abandonar suas escrituras siríacas.
O objetivo do trabalho de Jacó de Edessa era criar um tipo híbrido
e ampliado para aclarar tanto a "peshita" como os textos gregos
das escrituras e do ponto de vista puramente exegético pode-se
considerar como superior às duas traduções.
Ressalta a autora que embora poucos manuscritos restaram da revisão
bíblica de Jacó de Edessa, estes manuscritos estão
sendo estudados por orientalistas já por dois séculos e
muito pouco trabalho se concluiu restando ainda muito por realizar.
Apesar de não existir uma biografia apurada para a vida e a obra
deste santo, exceção à biografia registrada na obra
de Gregório Bar Hebraeus, a Universidade de Leiden na Holanda organizou
um simpósio nos dias 4 e 5 de abril de 1997 sob o título
"JACO DE EDESSA E A CULTURA SIRIACA DOS SEUS TEMPOS" .
Neste simpósio foram coletados: 11 livros, 15 citações
em dicionários e enciclopédias, 5 trabalhos específicos,
3 cronologias e 3 referencias.
Quanto ao simpósio foram abordados os seguintes temas:
A revisão do texto bíblico, Scholia e Comentários
sobre a Bíblia, Hexameron, Trabalhos Filosóficos (incluindo
a tradução DAS CATEGORIAS), Crônicas, Trabalhos Litúrgicos
(incluindo MARTIRIOLOGIA), Cânones, Obra Gramatical - Massora -(incluindo
O TRATADO DOS PONTOS), Ortografia Siríaca, Cartas (Epístolas
de Mar Yacoub, bispo de Edessa), inclusive a Carta a São João
Estilita de Litarab que se refere aos cânones eclesiásticos;
Traduções de Jacó de Edessa, Diversos Scholia e Varia.
Ainda no simpósio analisou-se a influencia do seu trabalho nos
trabalhos posteriores da tradição siríaca como, por
exemplo, nos trabalhos de Catena Severi, Isho'dad de Merv, Muxe Bar Kifo
(Moises o filho da Rocha), Dioniso Bar Salibi, Gregorios Bar Hebraeus,
Jacó em crônicas siríacas recentes, Os trabalhos massoreticos
de Jacó nas novas tradições.
Foram feitas referencias também às traduções
antiqüíssimas dos trabalhos de Jacó de Edessa para
o armênio e o árabe.
Na obra MARDUTHO DSURYOYE de Ibrahim Gabriel Sowmy, foi citado o fato
de Jacó de Edessa ter composto centenas de poesias e hinos religiosos
ao modelo de Jacó de Srug.
No Brasil o site www.syriac-br.org. faz citação
também a Jacó de Edessa.
Tradução de Aniss I. Sowmy
Revisão final Peter I. G. Sowmy
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