Possa
a Providência Divina abraçar a todos através da intercessão
da Virgem Maria, Mãe de Deus e de S. Pedro, líder dos apóstolos
e de todos os demais Mártires e Santos. Amém.
Esperamos que todos se encontrem bem e com boa saúde e oferecemos
a nossa benção apostólica e as nossas orações
benevolentes quando dizemos:
Eis que chega o tempo da Quaresma. Essa é uma oportunidade de ouro
oferecida pela nossa Santa Igreja e é o tempo de examinarmos as
nossas almas. É o tempo de evitarmos os vícios e nos apegarmos
à virtude. É o tempo de retornarmos a Deus em arrependimento:
No tempo aceitável te escutei e no dia da salvação
te socorri (II Coríntios 6: 2). Tal como a águia que
treina seus filhotes para voarem alto nos céus, assim também
a Santa Igreja treina o fiel a elevar-se nos céus espirituais.
A Santa Igreja lhes fornece a graça para escaparem da terra e das
coisas que os puxam para baixo. A Igreja
procura sobrepujar as dificuldades da vida espirutal para que o fiel possa
crescer na vida de virtude até o cume da perfeição
evangélica através da supressão dos desejos carnais
baixos: Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida
que permanece para a vida eterna (João 6: 27). Durante a
Quaresma os fiéis abstém-se dos alimentos por um certo tempo:
depois então eles voluntariamente ingerem alimentos leves de abstinência.
Dessa forma, seus corações vibram com a santidade e eles
crescem gradualmente no poder através da submissão do corpo
ao Espírito Porque a carne luta contra o Espírito,
e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro,
para que não façais o que quereis. (Gálatas
5: 17) como o diz S. Paulo. É por meio da abstinência que
os fiéis podem evitar os desejos da carne e praticarem as boas
ações que desejam realizar.
Em verdade foi Deus quem instituiu o jejum: Êle o comandou ao primeiro
homem. Quando esse quebrou o mandamento, ele caiu no pecado e mereceu
a morte. Depois de estar tão perto de Deus, o homem foi afastado
dEle. Ele até se escondera de Seus santos olhos e não mais
pode vê-Lo (Gênesis 3: 8) porque desobedecera as Suas divinas
ordens e não jejuara conforme lhe fora ordenado. Para agradar a
Deus, os patriarcas e profetas jejuaram de diversas maneiras. Deus ordenara
Moisés a santificar-se alcançando o monte Sinai para receber
os mandamentos (Êxodo 19: 1-25). Moisés jejuara então
quarenta dias e quarenta noites (Êxodo 34: 28). Ele achou graça
aos olhos de Deus e fez-se merecedor de ver Sua glória (Êxodo
33: 13 and 18); ele levou a lei a seu povo.
Elias, o profeta, jejuou quarenta dias e quarenta noites (I Reis 19: 8);
ele triunfou sobre os sacerdotes pagãos e trouxe o povo para a
lei; por conseguinte ele mereceu ser levado para o Céu em carruagem
de fogo.
O profeta Daniel jejuou três semanas durante as quais não
comera carne e nem bebera vinho (Daniel 10: 2). Assim pode êle manter
as amndíbulas dos leões fechadas e êles o não
feriram. O povo de Nínive jejuou com seus filhos e até seus
animais (Jonas 3: 7).
Como resultado, Deus aceitara seu arrependimento e sua cidade fora salva
da destruição.
Os antepassados e os profetas bondosos praticaram a virtude do jejum como
forma de agradar a Deus para evitar os pecados, em especial durante as
crises e tentações.
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-nos a jejuar; Êle jejuou por quarenta
dias e quarenta noites e quando finalmente Êle sentiu fome (Mateus
4: 2) Êle fora tentado por Satanás. Êle derrotou Satanás
e nos entregou o segrêdo da vitória sobre Satnás e
suas potestades dizendo: mas esta casta não se expulsa senão
à força de oração e de jejum (Mateus
17:21). Quando Lhe perguntaram por que Seus discípulos desdenhavam
o jejum como
alegavam Seus inimigos respondeu-lhes Êle que Seus discípulos
jejuariam quando Êle ascendesse aos céis dizendo: Dias
virão, porém, em que lhes será tirado o noivo, e
então hão de jejuar (Mateus 9: 15). Em outro lugar:
informou-os qual o jejum escolhido e aceito por Deus Altíssimo
dizendo: Quando porém, jejuardes, não vos mostreis
contristrados como os hipócritas (Mateus 6: 16).
Além disso, aprendemos de Atos dos Apóstolos que os discípulos
observavam o jejum, em especial antes da eleição de seus
líderes e durante as persecuções, guerras e pragas.
Paulo jejuava contínuamente (cf. II Coríntios 6: 5 e 11:
27; também Atos 27: 32).
Os discípulos ensinaram os fiéis como deveriam jejuar; a
Igreja recebeu isso deles e o resto dos jejuns ela organizou. A história
da Igreja mostra como os primeiros cristãos desde o alvorecer do
cristianismo observavam o jejum da santa quaresma e da Semana da Paixão
e toda quarta-feira e sexta-feira da semana. Os cânones da Igreja
punem os que quebram o mandamento do jejum, sejam de qual hierararquia
forem, clerical ou laico.
Exceções, porém, são feitas aos idosos, bebês,
doentes, mulheres que amamentam, que acabaram de dar à luz e grávidas:
essas exceções não foram impostas por luxo mas pela
necessidade. No dia de sábado e domingo, no entanto, os fiéis
suspendem o jejum e não lhes é proibido o comer pois neles
faz-se a Oferenda Divina (Comunhão) e após a missa, quebram
o jejum e alimentam-se com os alimentos da abstinência e por causa
da santidade do domingo, nossa Igreja Siríaca nunca inicia nele
o jejum, qualquer que seja ele. Se ainda assim, devesse iniciar o jejum
num dia de domingo, por causa do respeito ao dia de Nosso Senhor Deus,
iniciamos o jejum na segunda-feira e assim, os dias de abstinência
ficam reduzidos em um dia.
A Santa Igreja não determina os tipos de alimentos a serem ingeridos
e os que devem ser evitados num determinado dia. O objetivo do jejum é
a submissão do fiel à vontade de Deus atrave´s da
piedade e das práticas das virtudes, especialmente a da obediência
aos mandamentos de Deus
conforme foram falados pela boca dos seus servos, os bispos, a quem lhes
deu o Senhor da Glória a autoridade para legislar e para amarrar
e desatar. Eles fazem leis para o benefício dos fiéis e
glória de Seu Santo Nome. Como a Igreja é uma mãe
amorosa e carinhosa e uma boa mestra, ela não coloca cargas pesadas
sobre os fiéis as quais eles não conseguem levantar, de
acordo com as palavrazs do Senhor: Ai de vós, doutores da
lei! porque arregais os homens com fardos difíceis de suportar,
e vós mesmos nem um dos vossos dedos levantais para ajudá-los
(Lucas 11:46) por isso, permitiu o Patriarca Elias III ( 1932) de saudosa
memória, permitiu que os fiéis se alimentassem de peixes
durante a quaresma e também permitiu aos fiéis da Igreja
na América que observassem o jejum somente durante duas semanas
na quaresma, a primeira e a última bem como as quartas-feiras e
sextas-feiras, quanto aos demais dias, foi-lhes permitido comerem.
Semelhantemente, o saudoso Patriarca Aphrem Barsoum ( 1957) deu a mesma
permissão à Igreja da Índia, reduzindo também
os dias de jejum no ano de 1946.
Além disso, o Patriarch Jacob III ( 1980) de saudosa memória,
permitiu o jejum somente na primeira e na última semana da quaresma
e às quartas-feiras e sextas-feiras para todo o clero e ao povo
em geral. Em 1966 ele autorizou p uso de toda espécie de alimentos
nos demais dias e também permitiu a realização de
festas e casamentos e batismos e a Santa Missa e comemorações
a serem celebradas em qualquer dia no período entre as duas
semanas mencionadas. A permissão de nossos predecessores, os santos
patriarcas, permitindo o decréscimo dos dias de jejum dos fiéis,
na quaresma, vem como um ato de misericórdia e compaixão
para que não transgridam o mandamento e incorram na ira divina.
Assim, todo aquele que fizer uso dessa permissão não estará
pecando e nem será considerado entre os que transgridem a lei.
Quanto aos que observam os quarenta dias de abstinência da quaresma
e também da Semana da Paixão, suas recompensas serão
multiplicadas junto a Deus.
Quão útil é então, meus queridos, que imitemos
nossos antepassados justos! A Bíblia Santa nos ordena dizendo:
Lembrai de vossos líderes que vos falaram a palavra de Deus.
Observai o resultado de suas vidas e imitai a sua fé (Hebreus
13: 7). É de conhecimento de todos que vivemos uma época
de dificuldades em que a chama da fé está por se extinguir
em nossos corações e o amor esfria em nossas almas e negligenciamos
nosso dever de jejuar e orar e ao amor à matéria somos atraídos
e até os trabalhos de caridade negligenciamos e se concretiza em
nós o que fora dito: pois seus estômagos tornaram-se
seu deus e suas glórias, sua vergonha (Filipenses 3, 19).
Esse é o sino do alarme que nos avisa do perigo da nossa Ouçamos
então
Deus que nos fala através da boca do profeta Joel que diz: Declarai
um jejum, convocai uma assembléia... e rasgai vossos corações
e não vossas vestimentas (Joel 1: 14 and 2: 13). Jejuemos
um jejum aceitável, não uma abstinência tão
somente de alimento e de bebida mas também de
maldade e iniqüidade. Abstenhamos nossas mentes das imaginações
más e nossas línguas, das palavras vãs e nossos corpos,
dos desejos nefastos e submetamos nossos desjos a Deus Altíssimo.
Seja então nosso jejum aceito por Deus conforme a palavra do profeta
Isaías: É este o jejum que escolhi? E soltarás
as ligaduras da impiedade, e desfarás as ataduras do jugo e deixarás
ir livres os oprimidos, e despedaçarás todo jugo. E repartirás
o teu pão com o faminto. Ao estranho recolherás em tua casa...
Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás
por socorro, e Ele dirá: Eis-me aqui (Isaías 58: 6-9)Que
o Senhor aceite vossos jejuns, orações, caridades e arrependimento.
Que Ele vos faça merecedores de celebrarem a glória de Sua
ressurreição com júbilo, alegria e boa saúde.
Que Êle também tenha misericórdia de vossos fiéis
que se partiram dessa vida, através da intercessão da Virgem
Maria, Mãe de Deus e de S. Pedro, líder dos apóstolos
e de todos os demais Mártires e Santos e Deus vos abençoe.
Escrito em nosso Patriarcado em Damasco, Síria.
No 25o dia de janeiro, no ano de dois mil e dez, que é o 30º
ano de nosso Patriarcado.
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