Como são
miseráveis aqueles que estão morrendo, pois, eles não
conhecem os santos sacramentos, perderam seu poder e os sacramentos tornaram-se
inexistentes para eles. O salmista não escreveu sobre pessoas como
estas? "Diz o insensato em seu coração: não
há Deus - Corromperam-se e perpetraram abominações;
já não há quem pratique o bem" (Salmo 13:1).
Pois, aquele que chafurda numa poça de corrupção
e pecado e não compreende as lições celestiais é
considerado um tolo porque desconsiderou Deus, assim como os idolatras
que estavam muito longe do verdadeiro Deus, adorando o criado e não
o Criador. São ignorantes do poder da cruz, porque não acreditam
no plano divino da salvação da humanidade, não entendem
o trabalho secreto da redenção, não acreditam no
amado Redentor, e, em especial com relação aos judeus "porque
se eles conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória"
(I Coríntios 2:8), pois estes que foram confiados a proteger os
profetas, a lei e os códigos; a cruz tornou-se uma pedra de tropeço,
porque não queriam estudar os profetas ou entender o segredo da
redenção. Por isto perderam o poder da cruz que é
chamado por São Paulo, o poder de Deus.
O
poder da cruz deriva do mérito da morte de Cristo nela e a Sua
ressurreição dentre os mortos que anunciou a aceitação
do Pai da reparação do Crucificado na Sua redenção
da humanidade como bem expressou o apóstolo Pedro para o sumo-sacerdote
dos judeus a respeito de Jesus Cristo: "O Deus de nossos pais ressuscitou
a Jesus, a quem vós destes a morte, pendurando-o num madeiro. A
este elevou Deus com a sua destra por príncipe, e por salvador,
para dar o arrependimento a Israel, e a remissão dos pecados".
(Atos 5: 30-31); pois, milhões de pessoas foram crucificadas antes
de Cristo ser crucificado, mas nenhuma delas levantou-se dentre os mortos;
seus nomes foram apagados e suas almas se foram e nada deixaram a não
ser memória. Mas, só o Senhor Jesus, que foi crucificado,
morreu na cruz e foi enterrado num túmulo, levantou-se dos mortos
ao terceiro dia, e, levantou-nos com Ele e está à sua direita
no céu onde também nos assentou. Desde que foi crucificado
por nós e nos redimiu da maldição da lei, Ele se
tornou maldito por nós como está escrito: "O Cristo
nos remiu da maldição da lei, feito ele mesmo maldição
por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que é
pendurado no lenho" (Gálatas 3: 13) e "porque maldito
é de Deus aquele que está pendente dum lenho" (Deuteronômio
21: 23); então, Cristo trocou a maldição da cruz
por uma primavera celestial de bênçãos e graças
espirituais, e a cruz se transformou na bandeira da igreja cristã,
seu símbolo e objeto de jactância. Depois de ser um sinal
de fraqueza e humilhação tornou-se um símbolo do
poder de Deus e da glória da Sua Igreja. Este poder divino é
tomado por todo aquele que crê alcançar a salvação
através do sangue de Jesus Cristo que foi derramado na cruz; que
o sangue de Cristo é verdadeiramente o sinônimo da cruz,
pois é o sangue do Deus Encarnado, como o apostolo Paulo diz aos
sacerdotes de Efeso: "atendei por vós e por todo o rebanho,
sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para governardes
a igreja de Deus, que ele próprio adquiriu pelo seu próprio
sangue" (Atos 20: 28).
A
cruz é análoga a todo o evangelho como o apostolo Paulo
ensinou aos coríntios: "Porque julguei não saber coisa
alguma entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado"
(I Corintios 2: 2) pois, não há evangelho de salvação
sem a crucificação de Cristo e sua ressurreição
dos mortos. Cristo através da cruz nos deu as graças da
justificação e santificação, alem da graça
da adoção, tornando-nos escolhidos para estar diante do
Pai celeste não como escravos, mas como filhos pela graça
de chamá-Lo com a coragem peculiar dos filhos dizendo: "Pai
nosso que estás no céu". "Ele nos gerou do alto
não da vontade da carne ou da vontade do homem, mas de Deus"
(João 1: 13), pois o poder da cruz é a reconciliação
do céu com a terra. A terra obtém a vida do céu depois
de crer no Senhor do céu e aceitando seu plano da salvação.
Este
poder é a vitória sobre Satã para que cada um que
fizer o sinal da cruz à sua fronte com fé, atemoriza Satã,
e, todos os demônios juntos fogem de uma criança nova cristã
que se persigna com o sinal da cruz, pois, aquele Santo Crucificado nos
dá força espiritual para cada um se tornar num campeão
espiritual e um pequenino Cristo. A criança merece a vitória
que Cristo nos dá por sua graça através da sua vitória
sobre Satã dominando-o na cruz e entregando-nos a cruz como uma
arma espiritual afiada. Este poder divino escondido na Santa Cruz foi
origem de inspiração do apóstolo Paulo para anunciar
diante do povo que o ouvia: "mas nunca Deus permita que eu me glorie,
senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo: por quem o mundo está
crucificado para mim, e eu crucificado para o mundo".(Gálatas
6: 14) "e vivo, por melhor dizer, não sou eu já o que
vivo: mas Cristo é o que vive em mim. E se eu vivo agora em carne;
vivo na fé do filho de Deus, que me amou, e se entregou a si mesmo
por mim."(Gálatas 2:20).
Sim,
a fé em Jesus crucificado, o Redentor da humanidade, exige dos
crentes ambas vida e morte que é a partilha completa com Cristo
da sua paixão e morte na cruz, pois, assim os crentes morrem para
o mundo e seu pecado. Também exige a vida através de Jesus
que se levantou dos mortos: a vida que é a ressurreição
espiritual na unidade com Cristo que disse: "Eu sou a ressurreição
e a vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.
E todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente".
(João 11: 25-26). Assim o apóstolo Paulo crucificou a si
mesmo com Cristo, ganhou a vida com Cristo e descobriu o segredo do poder
da cruz de Cristo. Inicialmente a cruz foi um tropeço para ele,
Paulo, e um obstáculo para a fé no Cristo o Salvador, mas
depois se tornou um caminho suave dele para Cristo. Mais ainda ela tornou-se
para ele "vida e glória" (Gálatas 6: 14).
Sim,
o conhecimento de Jesus Cristo crucificado em verdade é a revelação
de dois sacramentos: encarnação e redenção.
Este conhecimento é também uma confissão de que Cristo
veio e encarnou-se e foi tentado como nós em tudo exceto pelo fato
de não ter cometido pecado e morreu em corpo na cruz para expiar
nossos pecados. Por isso fazemos o sinal da cruz sobre nossas faces dizendo:
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo Vivo, Um só
Deus Verdadeiro! (BXEM ABO, UABRO, URUHO HAIO KADIXO, HAD ALOHO XARIRO
- em aramaico) proclamando a nossa fé no sacramento da Santíssima
Trindade, um único Deus, e na igualdade em essência das três
pessoas desta Trindade e nos dois sacramentos: da encarnação
e redenção, e no trabalho reparador da cruz. E, é
por isso que os cristãos tomaram a Cruz como seu símbolo
desde o início do cristianismo levantando-a como bandeira da Igreja.
Com
este profundo entendimento a rainha cristã Helena, mãe do
imperador Constantino no quarto século da era cristã, prometeu
empenhar-se em buscar a Cruz se seu filho, o imperador Constantino acreditasse
em Jesus Cristo como redentor da humanidade. Ela rezava persistentemente
dia e noite, jejuava e praticava a caridade para que o Senhor ouvisse
sua súplica. Deus desejoso disto mostrou a Constantino o sinal
da Cruz no céu ao meio dia e com este sinal escreveu as palavras:
"com este sinal você vencerás", assim Constantino
tomou o sinal da Cruz como sua bandeira e do seu exercito e venceu seus
inimigos. Tornou-se cristão e sua mãe cumpriu sua promessa
no ano 326 AD indo para a Terra Santa procurar pela Cruz e a encontrou.
Ela teve certeza que era a Cruz verdadeira na qual Nosso Senhor Jesus
Cristo foi pendurado no Golgota através de um milagre; quando colocado
o corpo de um jovem recém morto sobre a Cruz o jovem ressuscitou,
e então o bispo da cidade abençoou o povo com a Santa Cruz
de Cristo.
Verdadeiramente
a Igreja Cristã venera a Santa Cruz como venera o sinal da Cruz,
assim como os cidadãos honram a bandeira do seu país, pois,
desta forma honram sua nação e sua pátria. Todo aquele
que honra seu país, honra sua bandeira que é o símbolo
da sua dignidade. Nós honramos a Cruz, adoramos aquele que foi
crucificado nela, morreu e ressuscitou dos mortos triunfando sobre a morte,
Satã e o pecado, e, através dela nos deu a vitória
contra estes três inimigos. Na Cruz vemos o sacramento da salvação
assim como o povo no Velho Testamento no deserto quando foram atacados
por cobras que mordiam, levantaram seus olhos com fé para a cobra
de cobre suspensa sobre a vara no centro da área para salvar-se
da morte. Nós, povos siríacos não colocamos uma estatua
de Jesus sobre a Cruz porque Ele que morreu na Cruz foi baixado da Cruz
e enterrado num túmulo novo e gloriosamente ressuscitou ao terceiro
dia, portanto, Ele não mais está na Cruz. A Cruz está
sem Ele. Assim quando respeitamos e veneramos a Cruz, em verdade adoramos
Aquele que foi crucificado nela. Não adoramos uma estatua e não
é de se admirar ser o resultado dos filhos de Israel adorando uma
cobra de cobre nos tempos do rei Ezequias; este rei fiel destruiu aquela
cobra e atirou-a ao fogo com o resto dos ídolos porque ela tornou-se
a razão da destruição do povo depois de ter sido
sua fonte de salvação (4Reis - 18: 4).
Respeitando
o sinal da Santa Cruz, nós, de qualquer modo estaremos adorando
o Senhor Jesus, que foi nela crucificado por nós e pela nossa salvação.
Adoramos a Cruz porque é a Sua bandeira (bandeira do Cristo) e
a bandeira da Sua Santa Igreja, e, através dela todos os sacramentos
tornam-se santificados. Adoramos o lenho da Cruz porque tocou o corpo
do Nosso Senhor Jesus Cristo e o seu sangue foi derramado sobre ela; e,
se sabemos que o manto que tocava o corpo de São Paulo tinha o
poder celestial extraordinário de curar assim que era colocado
sobre os enfermos, quanto mais crível é que o madeiro sobre
o qual Nosso Senhor foi crucificado e o seu Santo Corpo tocou pode auferir
poder santo para curar as almas e os corpos dos fiéis?!
Os
abençoados santos padres da Igreja ensinavam "se a árvore
da vida estava plantada no meio do Paraíso simbolizando o madeiro
sobre o qual o Messias foi pendurado, e, se os pais primeiros foram proibidos
de comer deste fruto depois de terem pecado para que não lhes fosse
concedida a vida eterna em estado pecaminoso, então sua prole teria
o direito de comer do fruto da salvação que vem da crucificação
de Cristo sobre o madeiro, depois de esta prole ter tido outorgada a redenção
através da crucificação do Enviado Celestial e os
crentes tornaram-se justos através da reparação,
e se tornaram santos, destinados à vida eterna no Cristo Crucificado!"
O
madeiro da Cruz e o seu sinal simbolizam o cordeiro pascal que foi lambuzado
nos postes (batentes) das portas e no travessão da porta de cada
casa do povo da velha aliança no Egito; e, quando o anjo da morte
via o sangue pascal não destruía o primogênito daquele
lar. Assim, o sinal da cruz salvou os primogênitos do povo da antiga
aliança.
Sim,
meus amados, pois nós somos os que somos salvos, a palavra da Cruz
é o poder de Deus e o sinal da Cruz é o sinal do nosso Santo
Messias que desejoso que este se tornasse o símbolo de todos aqueles
que verdadeiramente querem tornar-se seus discípulos, pois Ele,
glória a Ele, disse: "E o que não leva a sua cruz,
e vem, e, me segue, não poderá ser meu discípulo".
(Lucas 14: 27). Disse ainda ao povo e aos seus discípulos todos
juntos: "Se alguém me seguir, negue-se a si mesmo: e tome
a sua cruz, e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á:
Mas o que perder a sua vida por amor de mim, e do Evangelho, salva-la-á".
(Marcos 8: 34-35). Portanto, não é possível tornar-se
discípulos do Messias se não negarmos a nós mesmos.
Negarmos a nós mesmos significa que o crente confessa a sua própria
fraqueza, o poder de Deus Todo-Poderoso e a necessidade do fiel para quem
o poder de Deus não tem nada igual no universo, Santo é
o Seu Nome. Mas, carregar a cruz é a última rendição
ou renuncia, e os discípulos de Cristo enterraram suas ambições
com Cristo assim eles não mais olhavam por si mesmos, mas para
a salvação dos outros.
A
Cruz é o reconhecimento do direito à salvação
para os pecadores moribundos dentre nossos irmãos na humanidade;
por estes e para a sua salvação, e a nossa salvação,
Cristo carregou sua cruz e foi pendurado nesta cruz. Assim os discípulos
de Cristo devem empenhar-se e lutar pela salvação dos povos
para que comunguem a redenção e se tornem filhos de Deus
por sua graça. Discipulado a Nosso Senhor Jesus Cristo, autonegação
bem como carregar a Cruz: todas estas santas coisas lembram-nos nestes
momentos do glorioso dia histórico quando sentamos na Apostólica
Cátedra de Antioquia por graça e não por merecimento.
E hoje pela graça de Deus pisamos no limiar do décimo segundo
ano do nosso Patriarcado, começamos nosso trabalho neste ano com
a mesma fé, autonegação e sacrifício carregando
a cruz da nossa paciência e tolerância. Carregar a Cruz é
a prova da nossa confissão do seu poder divino e a nossa confissão
da nossa fragilidade e total dependência dEle, Ele a quem a glória
é devida, pois Ele é aquele que diz a nós como disse
ao apóstolo Paulo: "Basta-te a minha graça: porque
a virtude se aperfeiçoa na enfermidade" (II Corintios 12:
9). Pela graça de Deus o Altíssimo, fomos escolhidos para
servir a Sua Igreja, e, Ele nos chamou para dividir a carga da Cruz buscando
a salvação das almas. E, não há dúvidas
quanto a isto, pois, nós O vimos no caminho para o Golgota exausto
dos seus sofrimentos; enquanto andava seu sangue escorria do seu corpo
ferido, conseqüência da severa surra e socos fortes. Depois
de torturá-Lo com chicotadas selvagens, quando se mostrava impossibilitado
de carregar a cruz, Simão o Cireneu foi recrutado para carregar
a cruz no seu lugar. Com este fato aprendemos que Jesus Cristo permite
à humanidade carregar a Sua Cruz, carregando consigo a responsabilidade
da salvação da humanidade e dividindo com ele o trabalho
da redenção humana. Pois, a responsabilidade da salvação
através da Cruz foi dada a nós através da Santa Igreja;
no Corpo Sacramental de Cristo que teve a dignidade de ter o mérito
da redenção na Cruz e de preservar quem como nós
guarda com nossos próprios olhos e distribui estes méritos,
esta benesse aos seus filhos, os fiéis, para que eles se tornem
discípulos de Cristo, seu Senhor, seu Noivo e sua Cabeça.
Deus
do alto nos preparou desde quando éramos criancinhas para ser discípulos
de Cristo assim como nos preparou para sentar no trono de Antioquia por
sua graça e não por nosso merecimento. Por esta razão
levantamos a Sua majestade graças, pois ele nos concedeu estes
passados onze anos nos quais carregamos o fardo do Patriarcado.
Agradecemos
a todos os membros do Santo Sínodo, o respeito aos metropolitas
(bispos) que por inspiração divina elegeram-nos patriarca
para portar a bandeira diante deles no trabalho da Igreja de Deus adquirida
(a bandeira) com o Seu sangue para glorificar Seu Santo Nome e para a
salvação dos filhos de Deus.
Também,
meus amados, agradecemos os respeitosos metropolitas participes conosco
desta oração neste dia. Deus lhes dê sucesso no seu
serviço apostólico e que Deus esteja com todos nós
nos dias porvir como estava conosco nos anos passados, pois, sem Ele,
glória a Ele, como Ele mesmo disse; "porque vós sem
mim não podeis fazer nada" (João 15: 5). Agradecemos
a todos vocês clero e povo, pedindo a Deus para abençoar-vos
com a Sua Santa Cruz e vos preserve a vocês e seus filhos e vos
prepare para o dia em que o sinal da Cruz aparecerá no céu
anunciando a segunda vinda do Senhor Jesus, e, que vocês todos estejam
entre o numero daqueles marcados pela sua Cruz, salvos pela Cruz e "os
que obraram bem saiam para a ressurreição da vida"
(João 5: 29) com os justos que no dia do juízo final estarão
com as ovelhas à sua direita ouvindo a sua doce voz dizendo-lhes:
vinde benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado
desde o princípio do mundo" (Mateus 25: 34) e assim herdareis
com Ele o Reino dos Céus: esta posição que eu desejo
para mim e para todos vocês, por sua Graça, Amen.
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